“SE UM áLBUM DEMORA MAIS DE UMA SEMANA A PRODUZIR, ALGUéM ESTá A FAZER PORCARIA”: A CARTA DE STEVE ALBINI AOS NIRVANA

Os Nirvana partilharam nas redes sociais a carta de quatro páginas que receberam do produtor Steve Albini, falecido esta quarta-feira, com a proposta deste para produzir o álbum “In Utero”, de 1993, o terceiro e último da banda de Kurt Cobain. “Quero ser pago como um canalizador”, pode ler-se numa missiva onde a ética ‘indie’ de Albini ficou bem vincada

Um dia depois de confirmada a morte de Steve Albini, vitimado por um ataque cardíaco na passada terça-feira, aos 61 anos, as redes sociais oficiais dos Nirvana partilharam a carta de quatro páginas que a banda recebeu do músico e produtor, em novembro de 1992, na qual este se propunha a produzir o álbum “In Utero”, que seria editado em setembro do ano seguinte.

Na longa missiva de quatro páginas, Albini apresenta os seus argumentos e explica a sua abordagem e metodologia de produção musical, terminando com a seguinte frase: “Se um álbum demora mais de uma semana a produzir, alguém está a fazer porcaria”.

“Penso que o melhor que podem fazer neste momento é exatamente aquilo que dizem que querem fazer: gravar um disco num par de dias, com alta qualidade, mas produção minimalista e sem interferências do pessoal da editora”, escreveu o músico, “se é isso que vocês querem mesmo fazer, eu adoraria estar envolvido”.

Depois de esclarecer que se os Nirvana tivessem intenções de se vergar às exigências da editora discográfica não quereria fazer parte do processo, acrescentava ainda: “só estou interessado em trabalhar em discos que refletem legitimamente a perceção da própria banda da sua música e existência. Se vocês se comprometerem com isso como princípio da metodologia de gravação, então darei o litro por vocês”.

Declinando quaisquer royalties pela produção e mistura do álbum (“pagar royalties a um produtor ou engenheiro é eticamente indefensável”), Albini chegou mesmo a escrever que queria “ser pago como um canalizador: faço o trabalho e vocês pagam-me o que ele valer”. “A editora espera que eu vos peça 1% ou 1,5%. Se assumirmos que vende três milhões, isso dará 400 mil dólares ou algo assim. De forma alguma eu aceitaria tanto dinheiro. Não conseguiria dormir”.

Além de produzir “In Utero”, derradeiro álbum de originais dos Nirvana, que sucedeu ao sucesso de “Nevermind” (1991) e foi editado oito meses antes de Kurt Cobain morrer, Steve Albini deixou a sua marca como produtor em discos dos Pixies, Breeders, PJ Harvey, Manic Street Preachers ou Joanna Newsom.

Enquanto músico, liderou bandas como Big Black, Rapeman e Shellac, esta última preparava-se para editar o álbum “To All Trains” na próxima semana e viria apresentá-lo ao festival Primavera Sound, no Porto, a 8 de junho.

2024-05-09T14:11:25Z dg43tfdfdgfd