"NãO TENHO GRANDE PACIêNCIA PARA STAND-UP COM UMA MENSAGEM, MAS SE TENS ALGO A DIZER, QUANTO MAIS PRóXIMO FOR DA VERDADE MELHOR"

Quando em 2020 Duarte Pita Negrão apresentou, na RFM, o "Café da Manhã" com um grupo onde estavam Luís Franco-Bastos e Salvador Martinha, sentiu-se empurrado para a comédia pelos colegas humoristas. Agora, quatro anos depois, apresenta "Luzes”, o primeiro espetáculo de stand-up a solo. No Humor À Primeira Vista, com Gustavo Carvalho, explica porque não é verdade que fazer stand-up seja terapêutico e relata a experiência de assistir ao vivo a um espetáculo de John Mulaney e da surreal atuação que lhe pagou a viagem

O "Luzes" é um espetáculo de stand-up comedy mais conceptual, com uma vertente cénica. Preocupa-te então passar uma mensagem?

Por definição não tenho grande paciência para stand-up com mensagem. Pode acontecer seres preachy, de repente estás no coaching.

É necessário que seja uma mensagem específica, se for um superficialidade não resulta.

Sim, uma banalidade do estilo "janta com amigos." Eu não sou muito a favor de stand-up com mensagem, mas - e isto é um grande mas - se tiveres alguma coisa a dizer, quanto mais próxima for da verdade mais fixe é. Isto vem um bocado da escola do Salvador Martinha. Acho que deves falar do que queres falar. Tu não tens de ir para palco exorcizar demónios. Aquela ideia de que é terapêutico estar em palco é um bocado mentira.

Achas que é mentira?

Mais ou menos. O processo de chegares a palco, de trabalhares o que queres dizer, é terapêutico. Estares em palco a receber miminho pelo que estás a dizer, não sei até que ponto é assim tão terapêutico. Até porque muitas vezes não corre bem e manda-te mais para baixo. E se correr bem também não te dá a caminha de contente que tu querias receber. É fixe, és o maior do mundo durante uns segundos e depois continuas mal, está tudo igual.

Parte de exorcizar os demónios é mesmo a trabalhar o texto. É teres abertura suficiente para abordares um tema que seja difícil para ti e conseguires desconstruí-lo.

Também acho que sim.

E acho que é sempre interno, nunca externo. Não é porque as pessoas se riram que exorcizei os meus demónios.

De acordo, pode é acontecer que ao verbalizares uma coisa que achas que é tua, perceberes que há ressonância. Afinal descobres que há 700 pessoas que sentem o mesmo.

Gustavo Carvalho entrevista pessoas para quem a comédia é paixão e profissão. Oiça aqui mais episódios:

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