MULHERES QUE CONTAM. ANA LUíSA SANTOS

Por isso, no mestrado, especializou-se em psico-criminologia. Passou por prisões de menores, os chamados Centros Educativos, pelo Chapitô, onde trabalhou na Acção Social e, depois, foi fazer voluntariado para Moçambique.

Adorou o trabalho na comunidade, com mulheres, e ao regressar a Portugal foi em busca das comunidades africanas. Em Caxias, trabalhou na Batoto Yetu, mas o projecto que integrava terminou, deixando os miúdos sem resposta.
Ana Luísa Santos acabou por encontrar o caminho certo num sonho. Uma noite, sonhou que polícias e jovens estavam numa sala, em perfeita harmonia, e foi desse sonho revelador que nasceu esta ideia que “assenta numa intervenção de proximidade”.

No fundo, trata-se de uma abordagem preventiva, agir antes de as crianças e jovens enveredarem pelo “caminho errado”.

O projeto Gira no Bairro – uma Esquadra Aberta à Comunidade foi criado em 2019, por Ana Luísa Santos e a sua associação - a Mundos de Papel Associação - em parceria com a Polícia de Segurança Pública e outros parceiros de consórcio, como a Sociedade Portuguesa de Arte-Terapia, a União de Freguesias de Oeiras, São Julião, Paço D’Arcos e Caxias, e o Centro Educativo Padre António Oliveira da Direção-Geral de Reinserção e os Serviços Prisionais.

O Projeto, 100% voluntário, assenta em três pilares fundamentais: educação, empregabilidade e comunidade, abrangendo diversas valências da vida dos jovens.

Se no início houve resistências e desconfianças de parte a parte, hoje em dia, já vêm às festas mais de 70 familiares das crianças e jovens. Os polícias brincam, jogam, acompanham os TPC das crianças e jovens. Depois da escola, têm na esquadra espaços bem coloridos para trabalhar, jogar, dançar. Aprendem regras e o convívio em grupo, e aprendem a falar de emoções.

“É preciso trabalhar os valores, as emoções e criar oportunidades diferentes.”

Ana Luísa Santos pensa que “estas poderão ser as esquadras de futuro, próximas, onde as pessoas possam ir, onde os miúdos possam aprender e desenvolver-se – já temos miúdos que querem ser polícias. Portanto, já mudaram aqui algumas das suas ideias, porque, depois, eles também conhecem várias vertentes da polícia: a polícia criminal, a polícia de trânsito (às vezes os miúdos vestem-se de polícia e fazem operações stop), e eles acabam por ter aqui uma visão de que afinal os polícias são pessoas como os outros, a diferença é que vestem uma farda azul, são pessoas que se preocupam, que nos ouvem…” Entretanto, os dois agentes Marco Silva e André Monteiro, envolvidos diariamente nesta ideia, tornaram-se figuras de referência para Ana Luísa. E também para muitos destes jovens.

Adepta do scrap booking [scrap da Ana] - um trabalho manual de criar memórias com fotografias, papéis diferentes, botões e fitinhas – Ana Luísa quis fazer esse projecto com as miúdas. E foi assim que encontrou a arte-terapia, uma forma de potenciar o desenvolvimento humano e a criação através do fazer artístico. Diz que “às vezes é mais fácil através de um desenho, de uma pintura, de uma criação 3D com plasticina, dizer aquilo que se está a passar connosco, do que falar sobre isso. E então o nosso trabalho é, a partir daquilo que foi criado, ir procurar o que aquilo ali nos diz, para podermos ajudar aquela pessoa que está à nossa frente a trabalhar as suas questões mais internas.

"Pessoas criativas são pessoas mais resilientes.”

Hoje em dia, Ana Luísa Santos faz parte da Sociedade Portuguesa de Arte-Terapia, que é parceira do projecto Gira no Bairro. A Arte-Psicoterapia é “um método de tratamento indicado para todas as perturbações do foro mental, e também para situações de cariz psicossomático. Além disso é altamente eficaz no desenvolvimento pessoal criativo”, e adequada a todas as idades.

Quando perguntamos o que falta ao projecto? “APOIOS FINANCEIROS”, responde Ana Luísa Santos, porque apesar de contarem com a aprovação do programa Escolhas, há cada vez mais crianças e jovens a integrar o Gira no Bairro, e os meios não chegam para tudo. No ano passado, pela primeira vez, não puderam levar os miúdos de férias…

Quem quiser conhecer o projecto só tem de visitar a 84ª Esquadra da PSP, em Caxias, Oeiras, ou navegar pela Mundos de Papel.

E, como Ana Luísa Santos acredita que “ir ao psicólogo tem de ser uma coisa cada vez mais natural. E todos nós beneficiávamos em passar por um psicólogo: é descobrir-me, reconhecer-me, ver-me de outras perspectivas”, aqui ficam mais umas ideias.

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