PEDRO CHAGAS FREITAS: “QUANDO SE VIVE A DOENçA DE UM FILHO, NãO Há HORIZONTE, Só NEVOEIRO”

Pedro Chagas Freitas partilhou, este domingo, nas redes sociais, uma nova reflexão sobre a doença do seu filho.

“‘Quero comer maçãs vermelhas, pai’. ‘Está bem. A mãe vem a caminho e passa no supermercado, sim?’… ‘O que foi? Ficaste triste?’. ‘Não, mas não quero dar trabalho à mãe’”, relatou o escritor no Instagram.

“Não dás trabalho. Dás amor. Mas sabes tudo. Sabes que quando se vive a doença de um filho, vive-se na doença de um filho. À volta, tudo como se continuasse, mas nada existe”, comentou Pedro Chagas Freitas.

“Quando se vive a doença de um filho, vive-se contra a doença de um filho. Os dias são episódios no meio de uma trincheira, estamos sempre à espera de ataques que podem vir não se sabe bem de onde, cada pequeno avanço é festejado como o começo da vitória final, é a possibilidade de ser mesmo que nos mantém assim, elétricos apesar de na lama, corajosos apesar de cagados de medo, maiores do que nunca apesar de mais mais dobrados do que nunca”, referiu Pedro Chagas Freitas.

“Quando se vive a doença de um filho, não se vive coisa nenhuma; caminhamos numa estrada paralela à da vida que os outros vivem, estamos ali ao lado, podemos fazer por fora o que os outros fazem, podemos aqui e ali falar, juntar palavras, podemos aqui e ali ouvir, entender palavras, mas por dentro não estamos a viver como os outros vivem, estamos escondidos atrás, dentro, de uma matrix de angústia, uma espécie de lugar solitário, onde só está, para onde só desce, ao qual só tem acesso, quem está enfiado no lodo da doença de um filho”, continuou Pedro Chagas Freitas.

“Quando se vive a doença de um filho, não há horizonte, só nevoeiro, só nuvens que às vezes abrem um pouco, que às vezes fecham um pouco, que às vezes até trazem um rasto distante do sol que outrora nos cobriu. Tudo o que é alegre pode estar ali, à distância de um passo, que nunca estará acessível. Vivemos atrás de um vidro infrangível, num aquário de ansiedade, de cansaço, de abdicação voluntária (e feliz) de tudo aquilo que julgávamos essencial, enclausurados, mas apaixonados, sempre apaixonados”, afirmou Pedro Chagas Freitas.

“Quando se vive a doença de um filho, sabe-se que tudo o que fomos antes não existe, não vai voltar a existir, porque depois de viver a doença de um filho somos o começo de nós outra vez. Quando se vive a doença de um filho, nascemos a cada acordar dele, a cada progresso dele, a cada esperança dele”, acrescentou Pedro Chagas Freitas.

“Hoje nasci muitas vezes, então. Que assim seja todos os dias”, rematou.

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