SOMA DAS PARTES, A CRíTICA | O FABULOSO DESTINO DA ORQUESTRA GULBENKIAN

Estreado a 20 de junho, “Soma das Partes”, de Edgar Ferreira é um extraordinário retrato documental sobre os 60 anos da Orquestra Gulbenkian, um filme que está em cartaz em 16 cidades e salas de cinema do País, que é também uma quase obrigatória lição de cultura musical. Portanto não há desculpa para não vê-lo. Indispensável! 

“Soma das Partes”, dirigido por Edgar Ferreira lançado há poucos dias nas salas de cinema — embora seja determinante que seja transmitido na RTP, para possivelmente chegar a mais espectadores — é um documentário fascinante que nos oferece uma visão intimista e profunda da Orquestra Gulbenkian, uma das mais prestigiadas instituições culturais de Portugal, aliás como a sua casa-mãe.

Este documentário é fundamental, para todos os espectadores e não só para os melómanos, pois revela-nos pedagogicamente os bastidores da Orquestra, explorando primeiro, todos os difíceis passos para a sua criação, o seu alargamento, afirmação nacional e internacional; além de com detalhe mostrar-nos a dedicação, o talento e a colaboração dos seus músicos, intérpretes, maestros e directores, ao longo do tempo, que transformaram os concertos que muitos tivemos o prazer de assistir em momentos de arte sublime; além do do grande prestígio e percurso musical alcançado até aos dias de hoje, por esta que é a maior Orquestra portuguesa. 

Uma história difícil mas de sucesso

Em “Soma das Partes”, tudo começou em 1962, por iniciativa de Madalena Perdigão (1923-1989), então directora do Serviço de Música, que a Fundação Calouste Gulbenkian decidiu criar uma orquestra residente. No início, esta era constituída apenas por doze músicos na sua maioria estrangeiros — então o ensino da música, como das artes em geral, além de elitista era extremamente deficitário em Portugal — foi originalmente designada por Orquestra de Câmara Gulbenkian. Apresentou-se publicamente pela primeira vez a 22 de outubro de 1962, no Teatro Nacional D. Maria II.

Porém, ao longo de cinquenta anos de atividade, a Orquestra Gulbenkian — denominação adoptada apenas desde 1971— foi crescendo, contando hoje com um efetivo de cerca de sessenta instrumentistas que pode ser pontualmente expandido de acordo com as exigências de cada programa de concertos. Tudo isto é contado, com recurso a imagens de arquivo inéditas e depois com entrevistas com músicos, maestros e solistas internacionais. Este documentário “Soma das Partes” conta aliás com a participação de ilustres figuras do meio musical, a começar com o musicólogo Rui Vieira Nery (na foto de abertura) — que funciona como uma espécie de elemento condutor e organizador de toda a narrativa — que além da sua contribuição para o sucesso da Orquestra Gulbenkian, deram o seu importante testemunho, mostrando aos espectadores como foram esses últimos 60 anos de glória: Alejandro Oliva, Alfredo Flores, Andrew Swinnerton, António Gonçalves, Arlindo Santos, Evgeny Kissin, Hannu Lintu, Inês Thomas Almeida, Joana Carneiro, Lawrence Foster, Leonor Braga Santos, Levi Condinho, Lorenzo Viotti, Luís Tinoco, Manuel Teixeira, Maria João Pires, Maria José Falcão, Muhai Tang, Risto Nieminen, Teresa Nunes da Ponte, Varoujan Bartikian e Vera Dias.

O recurso a vários testemunhos vivos

Apesar do modelo de ‘talking-heads’ com esses muitos testemunhos, “Soma das Partes”, segue ainda o quotidiano dos membros da Orquestra Gulbenkian, desde os seus ensaios até às performances ao vivo. Ferreira foca-se nas histórias individuais dos músicos desde os mais antigos aos mais jovens, revelando as suas paixões, desafios e a dedicação necessária para alcançar a perfeição artística, só possível graças a uma grande interacção entre todos: o resultado dessa soma das partes. Ferreira proporciona-nos nessas entrevistas com os músicos da orquestra, maestros e outros profissionais envolvidos, ainda uma variedade de perspectivas sobre o funcionamento interno da orquestra. Estas entrevistas são complementadas por imagens de arquivo e excertos de concertos, criando uma narrativa rica e multifacetada.

Os testemunhos em “Soma das Partes” revelam não só a técnica e a disciplina exigidas, mas também a paixão e o amor pela música que movem estes artistas, nem sempre muito reconhecidos pelo grande público. “Soma das Partes” explora por isso e indirectamente temas como a colaboração, a dedicação e o sacrifício em prol da arte. O documentário destaca também importância do trabalho em equipa e da comunicação entre os membros da orquestra, essenciais para alcançar essa harmonia e a coesão necessárias nas performances, digressões nacionais — um imenso papel na descentralização — e internacionais por todo o mundo; e sobretudo na consolidação e manutenção de um notável repertório semelhante ao das grandes formações sinfónicas mundiais. Nomeadamente disponibilidade para interpretarem a produção orquestral de Haydn, Mozart, Beethoven, Schubert, Mendelssohn ou Schumann, entre outros compositores, clássicos e modernos. 

Uma realização eficaz e impecável

A realização de Edgar Ferreira é eficaz e impecável, com uma oportuna montagem que estabelece ligações perfeitas quer entre as entrevistas quer entre as imagens que as intercala. Consegue ainda realizar uma cinematografia que captura a beleza e a grandiosidade das interpretações musicais: a utilização de planos próximos durante os ensaios e sobretudo nas apresentações ao vivo, da orquestra realçando também as performances de alguns dos seus directores/maestros: a vibração e intensidade de Muhai Tang, o classissismo e pedagogia de Lawrence Foster, e por último a juventude e modernidade de Lorenzo Viotti.

Em “Soma das Partes”, tudo isto, proporciona-nos uma sensação de proximidade e envolvimento, permitindo ao espectador apreciar cada nuance das performances como os excertos de algumas composições. As cenas filmadas ora na sala de ensaios, ora no palco do Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, este com vista para o magnífico jardim, são também particularmente impressionantes, destacando a arquitetura e a atmosfera única do espaço. Ferreira aborda ainda o impacto cultural da Orquestra Gulbenkian, sublinhando o seu papel na promoção da música clássica em Portugal e no mundo, quer através das digressões, quer através de uma elevada produção discográfica, associada às grandes editoras de música clássica, aliás distinguidas com diversos prémios internacionais.

Por último, o filme destaca o papel da Fundação Calouste Gulbenkian no apoio à cultura e às artes em Portugal.

Soma das Partes, em crítica

Título: Soma da Partes
Descrição: Os 60 anos de atividade da Orquestra Gulbenkian, é pretexto para um documentário com recurso a imagens de arquivo inéditas e entrevistas a ex-músicos, maestros e solistas internacionais. “Soma das Partes” é a história de uma orquestra que contribuiu de forma determinante para o enriquecimento do panorama musical português, gravou mais de 70 discos e actuou ao lado de muitos dos maiores intérpretes no mundo da música.
Realizador: Edgar Ferreira,,
Elenco: Alejandro Oliva, Alfredo Flores, Maria João Pires, entre outros,
Género: Documentário musical
José Vieira Mendes 80

CLASSIFICAÇÃO FINAL: 80

Resumo:

Em resumo, "Soma das Partes" é um documentário imperdível para qualquer amante da música e das artes. Edgar Ferreira entrega-nos uma impecável obra documental, visual e auditiva que explora a riqueza e a profundidade da Orquestra Gulbenkian e dos seus protagonistas ao longo destes 60 anos. Com uma narrativa envolvente, um direcção de fotografia deslumbrante e entrevistas perspicazes, este filme oferece ainda uma experiência cinematográfica inesquecível que ressoa muito além dos limites da sala de concertos da Gulbenkian.

JVM

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